A aula de liberdade de Javier Milei no Fórum Econômico Mundial 2024

"Estamos aqui para lhes dizer que as experiências coletivistas nunca são a solução para os problemas que afligem os cidadãos do mundo, mas – pelo contrário – são a sua causa."

“Boa tarde, muito obrigado: estou aqui hoje para lhes dizer que o Ocidente está em perigo; está em perigo porque aqueles que deveriam defender os valores do Ocidente se veem cooptados por uma visão de mundo que – inexoravelmente – leva ao socialismo e, consequentemente, à pobreza.

Infelizmente, nas últimas décadas, motivados por alguns desejos bem intencionados de querer ajudar os outros e outros motivados pelo desejo de pertencer a uma casta privilegiada, os principais líderes do mundo ocidental abandonaram o modelo de liberdade, por diferentes versões, do que chamamos de coletivismo.

Estamos aqui para lhes dizer que as experiências coletivistas nunca são a solução para os problemas que afligem os cidadãos do mundo, mas – pelo contrário – são a sua causa. Acreditem, não há ninguém melhor do que nós, argentinos, para testemunhar essas duas questões.

Quando adotamos o modelo de liberdade – lá em 1860 – em 35 anos nos tornamos a principal potência mundial, enquanto quando abraçamos o coletivismo, nos últimos 100 anos, vimos como nossos cidadãos começaram a ser sistematicamente empobrecidos, até caírem para o 140º lugar no mundo. Mas antes que possamos ter essa discussão, será importante que primeiro olhemos para os dados que sustentam por que não apenas o capitalismo de livre iniciativa não é apenas um sistema possível para acabar com a pobreza do mundo, mas é o único sistema – moralmente desejável – a fazê-lo.

Se considerarmos a história do progresso econômico, podemos ver como do ano zero ao ano 1800, aproximadamente, o PIB per capita do mundo permaneceu praticamente constante durante todo o período de referência. Se olharmos para um gráfico da evolução do crescimento econômico, ao longo da história humana, estaríamos olhando para um gráfico em forma de taco de hóquei, uma função exponencial, que permaneceu constante por 90% do tempo e dispara exponencialmente a partir do século XIX. A única exceção a essa história de estagnação veio no final do século XV, com a descoberta da América. Mas, com essa exceção, durante todo o período, entre o ano zero e o ano de 1800, o PIB per capita, em nível global, permaneceu estagnado.

Ora, não só o capitalismo gerou uma explosão de riqueza, a partir do momento em que foi adotado como sistema econômico, mas se analisarmos os dados, o que se observa é que o crescimento vem se acelerando, ao longo de todo o período.

Durante todo o período – de 1800 a 1800 – a taxa de crescimento do PIB per capita manteve-se estável em torno de 0,02% ao ano. Ou seja, praticamente nenhum crescimento; a partir do século XIX, com a Revolução Industrial, a taxa de crescimento aumentou para 0,66%. Nesse ritmo, dobrar o PIB per capita exigiria crescimento, em 107 anos.

Agora, se olharmos para o período entre 1900 e 1950, a taxa de crescimento acelera para 1,66%, ao ano. Não precisamos mais de 107 anos para dobrar o PIB per capita, mas de 66. E se pegarmos o período – entre 1950 e o ano 2000 – vemos que a taxa de crescimento foi de 2,1%, ao ano, o que significaria que em apenas 33 anos poderíamos dobrar o PIB per capita mundial. Essa tendência, longe de parar, ainda está viva hoje. Se pegarmos o período, entre 2000 e 2023, a taxa de crescimento acelerou novamente para 3%, ao ano, o que implica que poderíamos dobrar nosso PIB per capita no mundo em apenas 23 anos.

Agora, quando estudamos o PIB per capita, desde o ano de 1800 até os dias atuais, o que observamos é que, após a Revolução Industrial, o PIB per capita mundial se multiplicou por mais de 15 vezes, gerando uma explosão de riqueza que tirou 90% da população mundial da pobreza.

Nunca devemos esquecer que – no ano de 1800 – cerca de 95% da população mundial vivia na mais extrema pobreza, enquanto esse número caiu para 5% em 2020, antes da pandemia.

A conclusão é óbvia: longe de ser a causa de nossos problemas, o capitalismo de livre iniciativa, como sistema econômico, é a única ferramenta que temos para acabar com a fome, a pobreza e a miséria em todo o mundo. As evidências empíricas são inquestionáveis.

Por isso, como não há dúvida de que o capitalismo de livre mercado é superior – em termos de produção – a doxa de esquerda tem atacado o capitalismo por suas questões de moralidade, por ser – segundo eles – injusto.

Dizem que o capitalismo é ruim porque é individualista e que o coletivismo é bom porque é altruísta, com o outro. Consequentemente, lutam por justiça social, mas esse conceito, que – vindo do Primeiro Mundo – virou moda nos últimos tempos no meu país é uma constante no discurso político há mais de 80 anos. O problema é que a justiça social além de não ser justa, não contribui para o bem-estar geral; pelo contrário, é uma ideia intrinsecamente injusta porque é violenta; é injusta porque o Estado se financia através de impostos e os impostos são recolhidos de forma coerciva. Alguém  pode dizer que paga imposto voluntariamente? Isso significa que o Estado se financia por meio da coerção, e quanto maior a carga tributária, maior a coerção, menor a liberdade.

Aqueles que promovem a justiça social partem da ideia de que a economia como um todo é um bolo que pode ser distribuído de uma maneira diferente, mas esse bolo não é dado, é a riqueza que é gerada, no que – por exemplo – Israel Kirzner chama de processo de descoberta de mercado. Se o bem ou serviço oferecido por uma empresa não é desejado, essa empresa vai à falência a menos que atenda ao que o mercado está exigindo. Se você gerar um produto de boa qualidade a um preço bom e atraente, ele vai se sair bem e você vai produzir mais.

Então, o mercado é um processo de descoberta, no qual o capitalista encontra o rumo certo à medida que avança, mas se o Estado pune o capitalista por ter sucesso e o obstrui nesse processo de descoberta, ele destrói seus incentivos, e a consequência disso é que ele produzirá menos e o bolo será menor, gerando danos à sociedade como um todo.

O coletivismo – ao inibir esses processos de descoberta e ao dificultar a apropriação do que foi descoberto – amarra as mãos do empreendedor e o impossibilita de produzir melhores bens e oferecer melhores serviços a um preço melhor. Como pode ser, então, que a academia, as organizações internacionais, a política e a teoria econômica demonizem um sistema econômico que não só tirou da pobreza mais extrema cerca de 90% da população mundial – e fazê-lo cada vez mais rápido –, mas que também é justo e moralmente superior.

Graças ao capitalismo de livre iniciativa, hoje, o mundo está no seu melhor estágio. Nunca houve, em toda a história da humanidade, um tempo de maior prosperidade do que o que vivemos hoje. O mundo hoje é mais livre, mais rico, mais pacífico e mais próspero do que foi em qualquer outro momento da nossa história. Isto é válido para todos, mas particularmente para os países que são livres, onde se respeita a liberdade econômica e os direitos de propriedade dos indivíduos. Porque os países que são livres são 12 vezes mais ricos do que os que são reprimidos. Os 10% mais pobres dos habitantes de países livres, vivem melhor do que 90% da população de países reprimidos, tem 25 vezes menos pobres no formato padrão e 50 vezes menos no formato extremo. E se isso não bastasse, os cidadãos de países livres vivem 25% mais do que os cidadãos de países reprimidos.

Agora, para entender o que estamos aqui para defender, é importante definir do que estamos falando quando falamos de libertarianismo. Para defini-lo, volto às palavras do maior herói das ideias de liberdade, da Argentina, o professor Alberto Benegas Lynch Jr., que diz: “libertarianismo é o respeito irrestrito ao projeto de vida alheio, baseado no princípio da não agressão, em defesa do direito à vida, à liberdade e à propriedade, cujas instituições fundamentais são a propriedade privada, os mercados livres da intervenção estatal, a livre concorrência, a divisão do trabalho e a cooperação social”.

Em outras palavras, o capitalista é um benfeitor social que, longe de se apropriar da riqueza alheia, contribui para o bem-estar geral. Em suma, um empreendedor de sucesso é um herói.

Este é o modelo que estamos propondo para a Argentina do futuro. Um modelo baseado nos princípios fundamentais do libertarianismo: a defesa da vida, da liberdade e da propriedade

Ora, se o capitalismo de livre iniciativa e a liberdade econômica foram ferramentas extraordinárias para acabar com a pobreza no mundo, e estamos hoje no melhor momento da história da humanidade, então por que digo que o Ocidente está em perigo?

Digo que o Ocidente está em perigo precisamente porque nos países que deveriam defender os valores do livre mercado, da propriedade privada e das outras instituições do libertarianismo, setores do establishment político e econômico, uns por erros no seu quadro teórico e outros por ambição de poder, estão minando os fundamentos do libertarianismo, abrindo as portas ao socialismo e potencialmente condenando-nos à pobreza, miséria e estagnação.

Pois nunca se deve esquecer que o socialismo é sempre e em toda parte um fenômeno empobrecedor que fracassou em todos os países onde foi tentado. Foi um fracasso econômico. Foi um fracasso social. Foi um fracasso cultural. E também assassinou mais de 100 milhões de seres humanos.

O problema essencial no Ocidente hoje é que devemos enfrentar não apenas aqueles que, mesmo após a queda do muro e evidências empíricas esmagadoras, continuam a lutar pelo empobrecimento do socialismo, mas também nossos próprios líderes, pensadores e acadêmicos que, sob o disfarce de um quadro teórico falho, minam as bases do sistema que nos deu a maior expansão de riqueza e prosperidade de nossa história.

O referencial teórico a que me refiro é o da teoria econômica neoclássica, que desenha um instrumento que, sem querer, acaba sendo funcional à interferência do Estado, ao socialismo e à degradação da sociedade. O problema com os neoclássicos é que, como o modelo pelo qual se apaixonaram não se contrapõe à realidade, eles atribuem o erro a supostas falhas de mercado em vez de rever as premissas de seu modelo.

Sob o pretexto de uma suposta falha de mercado, são introduzidas regulamentações que apenas geram distorções no sistema de preços, que impedem o cálculo econômico e, consequentemente, a poupança, o investimento e o crescimento

Esse problema reside essencialmente no fato de que mesmo economistas supostamente defensores da liberdade não entendem o que é o mercado, porque, se o fizessem, rapidamente se veria que é impossível que algo como falhas de mercado exista.

O mercado não é uma curva de oferta e demanda em um gráfico. O mercado é um mecanismo de cooperação social onde trocas são realizadas voluntariamente. Portanto, dada essa definição, a falha de mercado é um oximoro. Não há falha de mercado.

Se as transações são voluntárias, o único contexto em que pode haver uma falha de mercado é se houver coação. E o único com capacidade de coagir de forma generalizada é o Estado, que tem o monopólio da violência. Consequentemente, se alguém considerar que há uma falha de mercado, recomendo que verifique se há intervenção estatal no meio. E se você achar que não há intervenção estatal no meio, sugiro que faça a análise novamente porque está definitivamente errado. Falhas de mercado não existem.

Um exemplo das supostas falhas de mercado descritas pelos neoclássicos são as estruturas concentradas da economia. No entanto, sem funções que apresentem crescente retorno à escala, cuja contrapartida são as estruturas concentradas da economia, não conseguiríamos explicar o crescimento econômico do ano de 1800 até o presente.

Perceba como é interessante. A partir do ano de 1800, com a população se multiplicando mais de 8 ou 9 vezes, a produção per capita cresceu mais de 15 vezes. Há retornos crescentes, que levaram a pobreza extrema de 95% para 5%. No entanto, essa presença de retornos crescentes implica estruturas concentradas, o que seria chamado de monopólio.

Como é possível que algo que gerou tanto bem-estar para os teóricos neoclássicos seja uma falha de mercado? Os economistas neoclássicos são incoerentes. Quando o modelo falha, você não precisa ficar com raiva da realidade, você tem que ficar com raiva do modelo e mudá-lo.

O dilema enfrentado pelo modelo neoclássico é que eles afirmam querer melhorar o funcionamento do mercado atacando o que consideram falhas, mas ao fazê-lo não apenas abrem as portas para o socialismo, mas também minam o crescimento econômico. Por exemplo, regular monopólios, destruir lucros e esmagar retornos crescentes destruiria automaticamente o crescimento econômico.

Em outras palavras, toda vez que você quer fazer uma correção de uma suposta falha de mercado, inexoravelmente, porque você não sabe o que é o mercado ou porque se apaixonou por um modelo fracassado, você está abrindo as portas para o socialismo e condenando as pessoas à pobreza.

No entanto, diante da demonstração teórica de que a intervenção estatal é nociva, e da evidência empírica de que ela fracassou – porque não poderia ser de outra forma – a solução que os coletivistas proporão não é maior liberdade, mas maior regulação, gerando uma espiral descendente de regulações até que estejamos todos mais pobres. E a vida de todos nós depende de um burocrata sentado em um escritório chique.

Dado o fracasso retumbante dos modelos coletivistas e os inegáveis avanços do mundo livre, os socialistas foram forçados a mudar sua agenda. Deixaram para trás a luta de classes baseada no sistema econômico para substituí-la por outros supostos conflitos sociais igualmente nocivos à vida comunitária e ao crescimento econômico.

A primeira dessas novas batalhas foi a briga ridícula e antinatural entre homem e mulher.

O Libertarianismo já estabelece a igualdade entre os sexos. A pedra fundamental do nosso credo diz que todos os homens são criados iguais, que todos nós temos os mesmos direitos inalienáveis concedidos pelo criador, entre os quais a vida, a liberdade e a propriedade

A única coisa que essa agenda do feminismo radical conseguiu é uma maior intervenção do Estado para dificultar o processo econômico, para dar trabalho a burocratas que não contribuem em nada para a sociedade, seja na forma de ministérios de mulheres ou de organizações internacionais dedicadas a promover essa agenda.

Outro dos conflitos que os socialistas colocam é o do homem contra a natureza. Eles argumentam que os seres humanos prejudicam o planeta e que ele deve ser protegido a todo custo, chegando ao ponto de defender mecanismos de controle populacional ou a agenda sangrenta do aborto.

Infelizmente, essas ideias nocivas permearam fortemente nossa sociedade. Os neomarxistas conseguiram cooptar o senso comum do Ocidente. Conseguiram isso graças à apropriação dos meios de comunicação, da cultura, das universidades e, sim, também das organizações internacionais.

Felizmente, cada vez mais de nós ousamos levantar a voz. Porque vemos que, se não combatermos essas ideias de frente, o único destino possível é que teremos cada vez mais Estado, mais regulação, mais socialismo, mais pobreza, menos liberdade e, consequentemente, um pior padrão de vida.

O Ocidente, infelizmente, já começou a trilhar esse caminho. Sei que pode soar ridículo para muitos sugerir que o Ocidente se voltou para o socialismo. Mas só é ridículo na medida em que se restringe à definição econômica tradicional de socialismo, que afirma que é um sistema econômico onde o Estado é dono dos meios de produção.

Esta definição deveria, para nós, ser atualizada às circunstâncias atuais. Hoje, os Estados não precisam controlar diretamente os meios de produção para controlar todos os aspectos da vida dos indivíduos.

Com ferramentas como emissão monetária, empréstimos, subsídios, controles de taxas de juros, controles de preços e regulamentações para corrigir as chamadas “falhas de mercado”, eles podem controlar os destinos de milhões de seres humanos.

É assim que chegamos ao ponto em que, sob diferentes nomes ou formas, boa parte das propostas políticas geralmente aceitas na maioria dos países ocidentais são variantes coletivistas.

Sejam elas declaradamente comunistas, socialistas, social-democratas, democratas-cristãos, neokeynesianos, progressistas, populistas, nacionalistas ou globalistas.

No final, não há diferenças substantivas: todas defendem que o Estado deve dirigir todos os aspectos da vida dos indivíduos. Todas defendem um modelo contrário ao que levou a humanidade ao progresso mais espetacular de sua história.

Viemos aqui hoje para convidar os outros países do Ocidente a regressarem ao caminho da prosperidade. A liberdade econômica, o governo limitado e o respeito irrestrito à propriedade privada são elementos essenciais para o crescimento econômico.
Esse fenômeno de empobrecimento produzido pelo coletivismo não é uma fantasia. Nem fatalismo. É uma realidade que nós, argentinos, conhecemos muito bem.

Porque a gente já viveu isso. Estivemos lá. Porque, como disse antes, desde que decidimos abandonar o modelo de liberdade que nos tornou ricos, estamos presos em uma espiral descendente onde somos cada dia mais pobres.

Já passamos por isso. E estamos aqui para alertá-los sobre o que pode acontecer se os países do Ocidente que enriqueceram com o modelo de liberdade, continuarem nesse caminho de servidão.

O caso argentino é a demonstração empírica de que não importa quão rico você seja, quantos recursos naturais você tenha, não importa quão qualificada seja a população, ou quão educada ela seja, ou quantas barras de ouro existam nos cofres do Banco Central.

Se forem tomadas medidas que dificultem o livre funcionamento dos mercados, a livre concorrência, os sistemas de preços livres, se o comércio for impedido, se a propriedade privada for violada, o único destino possível é a pobreza.

Para finalizar, quero deixar um recado a todos os empreendedores aqui presentes e àqueles que estão nos observando de todos os cantos do planeta.

Não vos deixeis intimidar nem pela casta política, nem pelos parasitas que vivem do Estado. Não se rendam a uma classe política que só quer se perpetuar no poder e manter seus privilégios.

Vocês são benfeitores sociais. Vocês são heróis. Vocês são os criadores do período mais extraordinário de prosperidade que já experimentamos. Que ninguém lhes diga que a sua ambição é imoral. Se você ganha dinheiro, é porque oferece um produto melhor a um preço melhor, contribuindo assim para o bem-estar geral.

Não ceda ao avanço do Estado. O Estado não é a solução. O Estado é o próprio problema.

Vocês são os verdadeiros protagonistas dessa história, e sabem que, a partir de hoje, têm um aliado inabalável na República Argentina.

Muito obrigado e viva a liberdade, car*&@¨!”

Assista ao vídeo na íntegra:


Fonte: Instituto Rothbard Brasil

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