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O componente mais fantástico de uma economia de mercado: o sistema de preços

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Foto: Thomas Le/Unsplash

Como os recursos são alocados? Como empreendedores sabem o que deve ser produzido e em qual quantidade? Como os consumidores fazem os empreendedores saber quais são suas demandas?

A resposta é uma só: por meio do sistema de preços.

Não sejamos comedidos com as palavras: se o sistema de preços houvesse sido meticulosamente inventado pelo homem, seria uma das mais genais criações da mente humana.

Não houvesse um sistema de preços, simplesmente ainda estaríamos vivendo em condições de subsistência, com um padrão de vida baixíssimo. Jamais teríamos vivenciado todos os avanços alimentares, tecnológicos, medicinais e de conforto que usufruímos hoje.

Entender o sistema de preços é entender como bilhões de indivíduos completamente estranhos uns aos outros, espalhados pelo globo, falando dezenas de idiomas diferentes, e cada um preocupado apenas com o bem-estar próprio e o de sua família, fazem escolhas e agem de uma maneira que torna completamente possível a nossa atual prosperidade — possibilitando desde a existência diária de todos os tipos de alimentos frescos nas gôndolas dos supermercados até a incrível oferta de todos os tipos de bens de consumo e de serviços à nossa disposição.

Os preços coordenam tudo

O sistema de preços, quando deixado a funcionar livremente, é um engenhoso método de comunicação e coordenação capaz de aprimorar substantivamente as condições de vida dos seres humanos.

Os preços livremente formados nos informam sobre a abundância ou escassez de cada bem ou serviço específico, e coordenam como cada bem e serviço será usado em um dado processo de produção. 

Para os consumidores, um aumento nos preços de um produto sugere que este se tornou mais escasso. Consequentemente, os consumidores irão reduzir o consumo deste produto em decorrência deste aumento do preço e procurar por substitutos mais baratos.

Para os produtores, os preços maiores deste produto informam que pode haver maiores oportunidades de lucro para entrar neste mercado específico. Estes novos concorrentes irão ou produzir mais deste produto, aumentando sua oferta, ou produzir bens alternativos para concorrer com o produto em questão.

Este é o processo de descoberta que define a essência do mercado. E é este processo, quando deixado a ocorrer livremente, que garante que os preços estejam sempre em níveis que tendam a equilibrar oferta e demanda.

Naquele que talvez seja o seu mais importante artigo — O Uso do Conhecimento na Sociedade —, o economista austríaco Friedrich Hayek explicou detalhadamente a importância dos preços: eles transmitem todas as informações detalhadas que diferentes pessoas ao redor do mundo possuem sobre aspectos específicos de vários mercados.

O mercado — ou seja, a interação voluntária e espontânea de bilhões de pessoas ao redor do globo — é incrivelmente eficiente em compilar e extrair informações oriundas de um vasto arranjo de fontes ao redor do globo. Assim, os preços livremente formados no mercado enviam sinais importantes tanto para os consumidores quanto para os produtores, gerando assim uma coordenação espontânea ao redor do globo.

Um carpinteiro no Canadá, por exemplo, não precisa saber que está havendo uma escassez de aço na China para perceber que seus materiais estão mais escassos e mais caros do que antes. O preço dos pregos e parafusos já lhe dirá tudo o que ele precisa saber.

Ou imagine um fabricante de rádio.  Para construir seu produto, ele pode utilizar uma miríade de materiais, desde um simples plástico até a nobre platina. Como a platina é um metal nobre e relativamente escasso, seu preço é alto. Esse preço alto está enviando um sinal inequívoco ao fabricante de rádio: se ele quer usar platina, então é bom que seja para um motivo muito urgente, pois ele estará retirando recursos de outras indústrias para as quais a platina é um dos poucos materiais que tornam seu processo de produção lucrativo. 

Esse alto preço da platina, que o fabricante de rádio certamente não pode pagar, é reflexo do fato de que a platina é necessitada com mais urgência em outros setores da economia, e a lucratividade que ela gera para esses setores permite que seus usuários elevem o preço da platina até o ponto em que passa a não ser vantajoso para o fabricante de rádio competir por esse recurso escasso.

É claro que o fabricante de rádio não necessariamente sabe por que o preço da platina é tão alto, ou quais são seus outros possíveis usos. Tudo o que ele sabe é que a platina é cara — e ele deve reajustar seu processo de produção de acordo com essa realidade. Ele terá, então, de utilizar um material como o plástico, cuja maior abundância ou menor urgência em outros setores torna seu uso mais viável e racional.

Milhões de decisões como essa são feitas diariamente, desde a fabricação de aviões até a produção de pães. As decisões são racionalizadas exatamente por causa do sistema de preços, e sem que os produtores envolvidos nesses processos tenham de saber por que exatamente as condições econômicas do momento fazem os preços serem como são. 

Se houver gerenciamento, haverá ruptura

Esses exemplos nos mostram como o arranjo é intrincado e instável demais para ser “gerenciado” ou sofrer uma “sintonia fina”. 

O sistema de preços aloca os recursos de forma que eles sejam utilizados da maneira mais racional possível, de modo a evitar desperdícios e más alocações. Qualquer controle de preços, por mais trivial que pareça, irá inevitavelmente perturbar e descoordenar todo esse complexo arranjo.

Conclusão lógica: qualquer intervenção no sistema de preços irá gerar irracionalidade na produção, desperdícios de recursos e escassez de bens. Qualquer intervenção no sistema de preços, inclusive no preço da mão-de-obra ou no preço do dinheiro (juros), também gerará efeitos disruptivos.

Para ilustrar todo o maravilhoso funcionamento do sistema de preços, a espetacular coordenação que ele gera e, acima de tudo, os resultados surpreendentes e inesperados causados por súbitas alterações nos preços de determinados produtos, não posso fazer mais do que recomendar efusivamente o vídeo abaixo (de menos de 5 minutos e com legendas em português).

Quem poderia imaginar que o aumento do preço do petróleo na década de 1970 levaria a um aumento do consumo de chocolates?


Donald Boudreaux foi presidente da Foudation for Economic Education, leciona economia na George Mason University e é o autor do livro Hypocrites and Half-Wits.

Fonte: Mises Brasil

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