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Os passaportes de vacina e a expansão de poderes dos regimes

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Foto: Amin Moshrefi/Unsplash

Ao redor do mundo, governos e autoridades sanitárias, apoiados pelo imprensa, já falam abertamente em transformar os passaportes de vacina (também chamados de “passaporte Covid” ou “passaportes sanitários“) em uma exigência universal para se locomover entre países, entre cidades e até mesmo para adentrar estabelecimentos comerciais da sua cidade.

A ideia é ao mesmo tempo simples e restritivamente totalitária: tão logo o indivíduo é vacinado, ele recebe um documento (ou um aplicativo em seu smartphone), o qual ele apresenta caso queira adentrar estabelecimentos até então fechados ou restritos — restaurantes, cinemas, teatros, estádios, escritórios, escolas.

À primeira vista, para o leigo, a medida pode parecer uma maneira eficaz de aliviar e afrouxar as restrições impostas pelos lockdowns. Mas é exatamente o contrário. 

Para entender por quê, pense por exemplo nos restaurantes. Em vários países, os restaurantes já estão reabrindo, embora ainda com capacidade restringida. Um passaporte sanitário irá proibir a entrada de potenciais clientes que ainda não tomaram a vacina (principalmente os mais jovens). 

Pior: irá restringir a liberdade até mesmo daqueles que já tomaram a vacina: se você já foi vacinado, mas seu cônjuge ainda não, esqueça a ideia de jantar como um casal. 

Aviões, metrôs, ônibus, trens e aplicativos de transporte, que continuaram operando durante a pandemia, repentinamente estariam proibidos para os não-vacinados.

Os únicos locais em que as restrições seriam relativamente afrouxadas são aqueles que estão completamente fechados, como locais voltados para grandes eventos e escolas. E, mesmo nestes, a ideia de passaportes acabaria por manter as atuais restrições em voga, pois daria aos governos um incentivo para manter as restrições por muito mais tempo como forma de vencer a resistência das pessoas às vacinas.

Passaportes sanitários, portanto, não podem ser vistos como uma forma de aliviar restrições, mas sim como um esquema coercitivo de forçar vacinações.

No cerne dos passaportes sanitários está a ideia de que cabe ao regime dizer a você aonde você pode e aonde você não pode ir. São os políticos que estão no controle da sua vida. Eles até desejam que você possa sair de casa, visitar pessoas e aglomerar. Eles até desejam que “você seja livre”. Mas a única maneira de isso acontecer é se todos nós aceitarmos estes passaportes, os quais, de maneira orwelliana, passaram a ser propagandeados como um esquema pró-liberdade.

Sem sentido, injusto e discriminatório

A ideia de que todas as pessoas do mundo precisam ser vacinadas é tão cientificamente insensata quanto a ideia de que ninguém precisa. As vacinas de Covid são essenciais para pessoas idosas e para aquelas com comorbidades. Mas as pessoas que já foram infectadas já estão imunes. Os jovens são grupo de baixo risco, e as crianças — para as quais, vale lembrar, nenhuma vacina ainda foi aprovada — correm muito menos risco de morte do que em relação à gripe normal. 

Se as autoridades impuserem vacinação para aquelas pessoas que não necessitam, o público começará a questionar as vacinas em geral.

Uma política de saúde pública eficaz depende da confiança. Mas o povo já perdeu a confiança nos governos porque, de um lado, estes tiveram um desempenho desastroso — os lockdowns destruíram as economias e não resolveram nada — e, de outro, eles próprios já deixaram claro que não confiam no povo. A confiança, afinal, é uma via de mão dupla. Vacinações coercitivas irão apenas erodir ainda mais a confiança. Mesmo as pessoas mais bem informadas irão legitimamente começar a questionar: se as vacinas são realmente boas para mim, por que estão me obrigando a tomá-las?

A “ciência”, é claro, não impõe nada em termos de políticas públicas. São políticos — que se apoiam no poder violento do estado — que impõem ordens. Estas ordens são escolhas políticas, e não forças da natureza. E elas nem sequer são escolhas políticas prudentes, pois se baseiam em conclusões questionáveis forjadas de dados científicos aleatórios.

Passaportes sanitários, ademais, são injustos e discriminatórios. A maioria dos que aprovam a ideia pertencem à “classe do laptop”: profissionais privilegiados que podem trabalhar de casa, de forma segura e confortável, durante a pandemia. Bilhões de pessoas ao redor do mundo continuaram exercendo suas profissões essenciais em seus locais de trabalho, e se tornaram imunes da maneira mais dura possível. Estas pessoas agora seriam obrigadas a se arriscarem a ter uma reação adversa em decorrência de uma vacina da qual não precisam. 

Ademais, tais passaportes iriam incitar os profissionais mais jovens e de menor risco — no Ocidente e no mundo em desenvolvimento — a serem vacinados antes dos mais velhos e de maior risco, porém menos ricos. Várias mortes evitáveis serão o resultado.

No entanto, sabemos como os regimes irão eventualmente justificar suas ordens caso as pessoas sejam irreversivelmente prejudicadas por reações adversas: “Não havia alternativa! A ciência nos forçou a isso!”.

Esta é uma maneira conveniente para os políticos se esquivarem da responsabilidade de terem forçado grande parte da população — principalmente os grupos de baixo risco — a se submeterem a determinados procedimentos médicos impostos pelo estado.

Para não sermos muito cínicos, é perfeitamente possível que tais pessoas realmente acreditem que estão fazendo o correto. Burocratas que forçam estas políticos sobre os cidadãos podem realmente desconhecer outro meio de ação.

Mas tamanho nível de certeza moral é um privilégio da classe política, e certamente nada tem a ver com “ciência”.

Para concluir

O uso massificado de vacinas contra a poliomielite, o sarampo, a caxumba, a rubéola, a raiva e outros patógenos salvaram milhões de vidas. Vacinas estão entre as mais importantes invenções da história humana — a razão pela qual, até antes de 2020, muitas pessoas no Ocidente já havia se esquecido que doenças infecciosas podem representar uma ameaça global. 

Aqueles que estão agitando por vacinações coercitivas estão simplesmente ameaçando todo este progresso ao solapar a confiança do público nas vacinas. Neste sentido, eles são muito mais perigosos do que aquele pequeno grupo dos movimentos anti-vacinas jamais foram.

Os governadores da Flórida (Ron DeSantis) e do Texas (Greg Abbott) já descartaram a ideia de impor passaportes de vacinação em seus respectivos estados. Outros políticos ao redor do mundo deveriam seguir seus exemplos.

Nota do Editor

Políticos, apoiados pela imprensa, querem transformar os “certificados de imunização” (ou “passaportes sanitários”) em uma autorização para que as pessoas possam se locomover entre cidades e até mesmo adentrar determinados estabelecimentos da própria cidade.

A coisa já está avançada. O Parlamento Europeu aprovou a emissão dos certificados na semana passada. No Brasil, o Senado fez o mesmo. Agora, está na Câmara.

O presidente Jair Bolsonaro afirmou que, caso o passaporte de vacinação seja aprovado pela Câmara, ele irá vetar. Postura moral e eticamente corretíssima — acima de tudo, respeitadora da liberdade individual.

Além de ser uma ideia totalitária, a imposição de certificados de vacinação, ao contrário do que afirma o senso comum, irá simplesmente prolongar desnecessariamente restrições e lockdowns, como mostram os dois médicos que escreveram o artigo abaixo.


Martin Kulldorff e Jay Bhattacharya

Martin Kulldorff, bioestatístico e epidemiologista, é professor da escola de medicina de Harvard.

O doutor Bhattacharya, médico e economista, é professor da escola de medicina de Stanford.


Fonte: Mises Brasil

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