Início Vida A jornada do belo: da beleza ao sublime

A jornada do belo: da beleza ao sublime

Insights sobre a experiência estética e a natureza humana

0

Edmund Burke (1729-1797), filósofo e político anglo-irlandês do século XVIII, deixou uma marca indelével na estética.

Nascido em Dublin, Irlanda, em 12 de janeiro de 1729, Burke era filho de um advogado protestante e uma mãe católica. Estudou no Trinity College de Dublin e, posteriormente, mudou-se para Londres, onde abandonou os estudos de Direito para se dedicar à carreira literária e viajar pela Europa. Em 1765, entrou para a política como secretário do Marquês de Rockingham, líder do Partido dos Whigs. Defendeu o papel dos partidos políticos na limitação do poder do rei e apoiou as reivindicações das colônias inglesas. Além disso denunciou injustiças da administração inglesa na Índia.

Escreveu “Reflexões Sobre a Revolução Francesa” (1790), condenando os excessos da revolução como um marco da ignorância e brutalidade, com fortes críticas à execução de “homens bons”, incluindo o cientista Antoine Lavoisier.

Mas foi com a sua obra “Investigação Filosófica sobre a Origem de Nossas Ideias do Sublime e da Beleza” que Burke explorou as origens psicológicas do sublime e da beleza, oferecendo insights profundos sobre a experiência estética e a natureza humana.

O belo

Para Burke, o belo é aquilo que é bem-formado e esteticamente agradável. Ele reside na harmonia, na proporção e na serenidade. Quando nos deparamos com algo bem-formado e esteticamente agradável, experimentamos um prazer que nos acalma.

A harmonia é como uma melodia suave que acalma nossos sentidos. Ela nos envolve em uma sensação de equilíbrio e ordem. A proporção, por sua vez, nos lembra que existe uma relação perfeita entre as partes, criando uma sensação de completude.

Imagine um jardim bem cuidado, com flores dispostas em proporções equilibradas, cores harmoniosas e uma atmosfera serena. Esse cenário nos traz prazer, nos conecta à natureza e nos permite escapar momentaneamente das preocupações cotidianas.

O belo, para Burke, não é apenas superficial; é uma experiência que transcende o imediato. Ele nos convida a contemplar algo maior, a encontrar significado na simplicidade e a apreciar a ordem subjacente ao mundo.

Ao buscarmos o belo, encontramos não apenas prazer estético, mas também uma conexão com o sublime da existência humana .

O sublime

O sublime pode ser compreendido como uma experiência que transcende o cotidiano. Ele nos atinge profundamente, como um trovão que ecoa nos confins da alma. Quando nos deparamos com o sublime, sentimos uma intensidade que nos arrebata.

Imagine estar no topo de uma montanha, olhando para um abismo profundo. A vastidão do cenário, a imensidão do espaço, tudo isso nos envolve em uma sensação de pequenez e admiração. O sublime nos faz confrontar nossa própria finitude e insignificância diante da grandiosidade do mundo.

Mas o sublime também pode ser assustador. Ele nos desafia a sair da zona de conforto, a enfrentar o desconhecido. É como estar à beira de um precipício, com o coração acelerado e os sentidos aguçados. O sublime nos coloca de frente ao abismo e nos faz questionar sobre a nossa própria existência.

Em obras de arte, como pinturas ou literatura, o sublime é frequentemente representado por tempestades, montanhas imponentes, o oceano em fúria. Essas imagens nos lembram da força da natureza e da nossa própria fragilidade e pequenez.

O sublime nos desafia a ir além do que é familiar, a explorar o desconhecido e a encontrar significado na vastidão do mundo. Ele nos convida a transcender nossos limites e a contemplar algo maior do que nós mesmos.

O belo versus o sublime

A grande contribuição de Edmund Burke reside na distinção clara entre duas experiências estéticas: o belo e o sublime. Esses dois conceitos, embora relacionados, evocam respostas distintas em nós.

O belo nos traz prazer. É aquilo que é bem-formado, harmonioso e esteticamente agradável. Quando contemplamos algo belo, experimentamos uma sensação de calma e satisfação. Pode ser uma paisagem serena, uma melodia suave ou uma obra de arte equilibrada.

Por outro lado, o sublime é algo que nos afeta visceralmente. Ele transcende o prazer e nos leva a um território mais profundo. O sublime está ligado a sensações de intensidade, grandiosidade e, muitas vezes, medo, envolvendo uma experiência que vai além do simples prazer.

O sublime nos confronta com o desconhecido, com o incontrolável. Pode ser a força de uma tempestade, a imponência de uma cachoeira ou a vastidão do oceano. Essas experiências nos lembram da nossa pequenez diante da natureza e da grandeza do mundo.

O sublime está ligado à vastidão, à grandeza e à profundidade. Ele nos compela a olhar para além do nosso eu individual, a enfrentar o desconhecido e a questionar nossa própria existência. O sublime é uma jornada emocional que nos leva a lugares inexplorados e nos faz sentir vivos.

Impacto e Influência

Edmund Burke transcendeu as divisões partidárias. Ele é considerado um símbolo tanto dos conservadores quanto dos liberais. Sua abordagem equilibrada e sua ênfase na tradição e na moderação atraíram seguidores de diferentes correntes políticas.

De um modo geral Burke valorizava a complexidade da experiência humana, acreditando que a tradição era essencial para a estabilidade social. Sua defesa da moderação e da empatia como pilares da sociedade influenciou o pensamento político e filosófico, alertando contra mudanças radicais e defendendo sempre a evolução gradual.

Uma das suas principais visões era a definição de liberdade como um direito, mas também enfatizava a necessidade de ordem para evitar o caos.

Seu legado está presente em debates sobre conservadorismo, liberalismo e ética, sempre pela busca do equilíbrio entre liberdade e ordem continua, tão relevantes em nossa sociedade atual. A doutrina de Burke influenciou escritores, pintores e críticos. Grandes nomes como Wordsworth, Thomas Hardy e Kant assimilaram suas perspectivas.

A obra de Burke não apenas enriquece a estética moderna, mas também revela seu entrecruzamento com o pensamento político e humano. O poder da arte e a arte de exercer o poder estão intrinsecamente ligados.

O autor nos lembra que a vida não é em preto e branco. Ela é repleta de nuances, tradições e desafios. Seu legado nos convida a buscar o equilíbrio entre a liberdade individual e a responsabilidade coletiva, valorizando a riqueza da experiência humana.

Para saber mais:

IoP

Sair da versão mobile