Aristóteles, já em seus anos de maturidade, fundou o Liceu em Atenas, consolidando sua obra filosófica. Foi nessa fase que ele desenvolveu reflexões sobre o papel da velhice na sociedade. Para o filósofo, envelhecer não era sinônimo de declínio, mas o ápice da jornada humana. A maturidade, segundo Aristóteles, é a coroa da vida, marcada pela possibilidade de alcançar a verdadeira eudaimonia — uma felicidade plena que nasce da realização do potencial humano e da sabedoria acumulada ao longo dos anos.
O filósofo enxergava na velhice uma oportunidade singular para viver de forma mais intencional. Ele acreditava que a experiência adquirida com os anos permitia compreender melhor a vida, identificar padrões mais amplos e tomar decisões com maior clareza. Hoje, a ciência moderna confirma essa visão. Estudos do Instituto de Envelhecimento de Harvard revelam que 72% das pessoas acima de 65 anos relatam maior satisfação com a vida quando encontram um propósito claro, e idosos engajados em atividades significativas têm 63% menos chances de desenvolver depressão.
A maturidade, longe de ser uma fase de encerramento, é uma etapa de florescimento. Aristóteles a definiu como o momento ideal para o desenvolvimento de virtudes que, com o tempo, atingem sua expressão mais refinada.
As virtudes da maturidade
Sabedoria contemplativa (Sophia)
A sophia é a virtude que caracteriza a capacidade de refletir profundamente e compreender os padrões da existência. Na vida moderna, ela se manifesta, por exemplo, em idosos que assumem papéis de mentores ou conselheiros, compartilhando sua sabedoria acumulada.
Grandes empresas têm reconhecido o valor dessa prática: organizações que mantêm conselheiros seniores cometem 47% menos erros estratégicos. Além disso, programas de mentoria conduzidos por idosos apresentam 85% de eficácia na transmissão de conhecimento. O simples ato de compartilhar experiências transforma vidas e preserva saberes essenciais para as próximas gerações.
Magnanimidade
A maturidade é também o momento em que surge a magnanimidade, ou a grandeza de alma. É nessa fase que muitos escolhem retribuir à sociedade o que receberam ao longo da vida. Filantropia, voluntariado e projetos de impacto social são expressões contemporâneas dessa virtude.
Um exemplo inspirador é o de organizações de voluntários seniores que promovem educação em comunidades carentes. Estudos apontam que idosos envolvidos em trabalhos voluntários têm uma expectativa de vida até sete anos maior e relatam níveis significativamente mais altos de satisfação pessoal.
Serenidade (Ataraxia)
A serenidade, ou ataraxia, é a capacidade de encontrar paz interior, mesmo em meio aos desafios. Esse estado de espírito é cultivado por meio de práticas contemplativas, como meditação, espiritualidade e aceitação ativa das mudanças que a vida traz.
Pesquisas mostram que idosos que praticam serenidade têm 58% menos problemas de saúde relacionados ao estresse e uma qualidade de sono 76% melhor. Em tempos de incertezas, a serenidade se torna uma âncora poderosa, permitindo que a maturidade seja vivida com leveza e equilíbrio.
O homem sábio não busca o prazer, mas a libertação das preocupações e sofrimentos. Ser feliz é ser autossuficiente.
Aristóteles
O papel do sábio
Aristóteles via nos idosos um papel central na preservação e transmissão da sabedoria coletiva. Hoje, isso é especialmente relevante em uma sociedade que enfrenta desafios como o isolamento social e a fragmentação de laços comunitários.
Os idosos são os guardiões do conhecimento cultural e dos valores essenciais. Famílias que mantêm vínculos fortes com seus membros mais velhos criam um ambiente de resiliência emocional: crianças que convivem com avós têm 67% mais capacidade de lidar com adversidades. Além disso, comunidades que promovem a integração intergeracional experimentam 45% menos conflitos sociais.
O conselheiro
A experiência da maturidade é valiosa também na mediação de conflitos e na orientação em decisões importantes. Estudos mostram que decisões familiares ou organizacionais têm 71% mais sucesso quando os idosos participam. Eles oferecem uma perspectiva que equilibra a razão e a emoção, essencial em momentos críticos.
A arte do envelhecimento virtuoso
Para Aristóteles, o envelhecimento virtuoso envolve três pilares principais: o desenvolvimento contínuo, os relacionamentos significativos e o cultivo do legado.
- Aprender sempre
O aprendizado não termina com a idade. Ao contrário, ele mantém a mente ativa e saudável. Idosos que continuam aprendendo novas habilidades têm 46% menos declínio cognitivo e sofrem menos com isolamento social. Muitos têm descoberto na tecnologia uma nova ferramenta para se conectar ao mundo, reduzindo o isolamento em até 65%.
- Fortalecer conexões
Relacionamentos profundos são essenciais para a saúde mental e emocional na maturidade. Estudos mostram que idosos com redes sociais ativas vivem, em média, cinco anos a mais. Seja fortalecendo laços familiares, seja participando de grupos comunitários, o poder das conexões humanas nunca deve ser subestimado.
- Deixar um legado
A fase final da vida também é um momento de refletir sobre o impacto que se deseja deixar. O legado não é apenas financeiro, mas também emocional e cultural: valores transmitidos, histórias documentadas e contribuições para a sociedade.
Envelhecer com propósito
Os desafios da maturidade, como o isolamento social ou a adaptação às mudanças, podem ser superados com práticas intencionais inspiradas na filosofia aristotélica. A participação comunitária ativa, o aprendizado contínuo e o cultivo de serenidade são estratégias que ajudam a transformar a velhice em um período de florescimento.
Aristóteles nos ensina que a maturidade, longe de ser um declínio, é o momento de colher os frutos de uma vida vivida com virtude. A sabedoria que ela traz é uma dádiva não apenas para quem a alcança, mas para toda a sociedade. Que possamos valorizar essa fase como a coroa da existência humana.
Para Saber Mais
Ética a Nicômaco: um dos tratados mais influentes da filosofia, esta obra explora as virtudes e a busca pela eudaimonia. O Livro X é particularmente relevante para entender como Aristóteles via a maturidade como o ápice do desenvolvimento humano.
Política: nesta obra, Aristóteles discute o papel dos cidadãos nas diversas etapas da vida, incluindo a importância dos idosos como conselheiros e guardiões da sabedoria na comunidade.
Retórica: Aristóteles descreve como a idade influencia a maneira como as pessoas pensam, agem e se comunicam. A terceira idade é retratada como um período de maior prudência e serenidade.
“The Nicomachean Ethics for Today” – Michael Pakaluk: uma abordagem moderna da ética aristotélica, aplicando suas ideias a questões contemporâneas, incluindo o papel das virtudes na vida madura.
“After Virtue” – Alasdair MacIntyre: um estudo essencial para entender a relevância da ética das virtudes no mundo moderno, com insights sobre como a maturidade pode representar o ápice do caráter humano.
“Practical Wisdom: The Right Way to Do the Right Thing” – Barry Schwartz e Kenneth Sharpe
Explora como a phronesis (sabedoria prática) se aplica em diversas fases da vida, incluindo a terceira idade, destacando sua importância para decisões éticas.
“Wisdom and Aging: Historical Aspects” – Journal of Aging Studies
Uma análise do envelhecimento a partir da filosofia das virtudes, destacando o papel da sabedoria na maturidade.
“The Role of Purpose in Healthy Aging” – The Gerontologist
Explora a importância de manter um propósito na terceira idade, em linha com a visão aristotélica de eudaimonia.
“Virtue Ethics and Aging: A Philosophical Perspective” – Ethics and Aging Review
Um estudo sobre como a ética das virtudes, especialmente sophia e ataraxia, pode moldar uma vida madura mais rica e significativa.
The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Entry: Aristotle’s Ethics)
Um recurso acessível para quem deseja entender melhor a ética de Aristóteles, com foco em suas virtudes e implicações práticas.
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