“A vida é combate,
Gonçalves Dias
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar!”
Vamos parar um pouco para pensar nos acontecimentos dos últimos três meses… Podemos estar vivendo um momento de mudança da guerra, da quarta geração para a quinta geração, fato interessante para discutirmos as transformações, ao longo dos tempos, das formas de combate que conhecemos para as que chegam ou que ainda estão por vir.
O cenário atual, visto de forma mais ampla, pode ser objeto de estudos neste sentido, apoiados nas mudanças políticas, econômicas, técnicas e sociais.
Analise, por favor, um breve relato sobre como enxergo as guerras ao longo dos tempos:
As guerras de primeira geração destacaram-se pelo uso massivo de Exércitos Humanos, liderados por figuras emblemáticas e históricas como Alexandre o Grande e Napoleão Bonaparte. Foram marcadas pela posse territorial para utilização econômica dos vencedores, pondo fim ao feudalismo e estabelecendo a construção de Nações, dentro do conceito que temos até os dias atuais.
Na segunda geração de combate ocorre uma evolução das armas de maior calibre e da utilização de uma sociedade industrial para aumentar o poder de fogo de seus Exércitos Nacionais. A conquista territorial, com base nos recursos naturais, ainda exerce influência, mas os fatores políticos têm grande relevância quando Hitler unifica a vontade alemã de se considerar uma sociedade melhor que as demais.
Já na segunda metade do século XX podemos conhecer a guerra de terceira geração que se apropria das mudanças políticas acentuadas promovendo o surgimento do conceito de guerra fria, onde comunismo e capitalismo disputam a supremacia dos ideários. O fator nuclear separa grupos antagônicos em segmentos distintos de influência. A existência do combate mecanizado baseado em informação e contra informação, ganha dimensões nos meios de comunicação. As fronteiras se tornam ideológicas.
Já a guerra de quarta geração denominada guerra assimétrica ou mesmo guerra híbrida tem sua maior energia direcionada ao exercício do poder de forças irregulares, ou seja, insurgentes, fazendo com que se torne mais próxima de todos nós. As Nações livres, nas quais a sociedade exerce seu poder de informação de forma dinâmica e incontrolável sofrem maiores e mais visíveis consequências. O fundamentalismo religioso unifica alguns espaços, isolando-os dos avanços conquistados pela humanidade. O “11 de Setembro” se torna um marco na discussão do paradigma de espaços seguros dos conflitos armados.
Chegamos então aos dias atuais onde os acontecimentos recentes tornam o ano 2020 um possível marco no surgimento das guerras de quinta geração.
Estamos vivenciando neste momento, a explosão da biotecnologia e do incremento vertiginoso do volume de informações no campo de batalha, atingindo em cheio as sociedades dentro de um conceito primordial de preservação da vida individual, do cidadão, dentro de um perfil tecnológico avançado de redes integradas.
Os desafios no tocante aos aspectos geopolíticos estabelecem novos parâmetros.
As informações são transmitidas instantaneamente por mídias sociais sem nenhum tipo de checagem quanto à origem e veracidade. As denominadas “fake news“ encontram terreno vasto e fértil para sua proliferação e exercem seu poder.
É uma guerra sem precedentes, onde tudo o que é dito sobre o assunto alarma as populações e exige de seus governantes respostas imediatas.
Países unidos em acordos internacionais descumprem de forma tácita a garantia da livre circulação de pessoas por suas fronteiras. As chamadas organizações intergovernamentais se mostram incapazes de apresentar uma solução conjunta e medidas são tomadas de forma isolada e aleatória visando a preservação de seus próprios povos, até então considerados aliados na defesa dos seus interesses.
As consequências ainda não são estimadas, pois vivemos o chamado momento crítico do combate, não tendo como visualizar o potencial efeito geopolítico na competição que hoje envolve o Oriente e o Ocidente.
Uma nova guerra apresenta-se em curso.
Nesses primeiros momentos, visualizo que a solução obrigatoriamente passará por crenças em lealdades políticas e sociais. As Nações terão que analisar as causas de forma mais profunda e não apenas as consequências, pois estas se traduzem em mortes muito rápidas no âmago de seus centros urbanos. O cenário de contágio pode ser um dos mais devastadores já vistos sem ter sido disparado um único tiro de arma de fogo.
Nosso desafio é enorme… Temos que nos unir.
Com apreço, admiração e gratidão,
Carlos Henrique Guedes
Carlos Henrique Guedes é Coronel de Infantaria do Exército Brasileiro – Representante do Brasil na Junta Interamericana de Defesa (JID) e na Organização dos Estados Americanos (OEA) de 2012 a 2014 – Washington DC/EUA, e atualmente é Sócio Fundador do Instituto O Pacificador.