Decisões

Nesse momento desafiador, me pareceu apropriada a releitura de um instigante livro: Defining Moments: When Managers Must Choose between Right and Right, do Professor Joe Badaracco, da Escola de Negócios de Harvard. Publicada em 1998, a obra se revela muito atual. 

Digo isso porque tenho participado da tomada de importantes decisões nos conselhos e órgãos colegiados dos quais participo. Muitas delas complexas. Algumas críticas. E faz parte do jogo, pois a posições de poder correspondem complexas responsabilidades. 

A inspiradora frase “faça a coisa certa” é muito útil para a criação ou no reforço da cultura corporativa. Mas certamente é insuficiente nas situações em que todas as opções na mesa são certas. Há momentos em que valores pessoais conflitam com os valores corporativos. Ou sociais. E nenhuma das opções representa algo ilegal ou injusto (até mesmo porque jamais será unânime a definição do que é justo ou injusto)- É o dilema que o autor chama de right-versus-right, escolhas compreendidas como defining moments ou “momentos decisivos”. E fazer uma coisa certa pode deixar outras coisas também corretas sem serem feitas. 

Decisões tomadas marcam para sempre as trajetórias pessoais e profissionais de quem as tomou. Acrescento, escolhas são invariavelmente feitas em algum contexto específico. 

O contexto que vivenciamos agora, de intensa crise, torna o processo decisório ainda mais intrincado, pois há necessidade de se reavaliar escolhas já feitas e readequar os caminhos num cenário que se demonstra por demais incerto, sem a presença de evidências suficientes, portanto frágil e volátil.

Os dilemas do right-versus-right, muito mais complexos do que aqueles entre o certo e o errado, em que a decisão é óbvia, permeiam os órgãos executivos e colegiados da administração pública e privada. 

Os negócios não podem prescindir de escolhas. E necessitam, ainda mais em tempos difíceis, de assertividade. O gestor tem que decidir, escolher, comprometer e agir. Isso não quer dizer que necessariamente há de se tomar, imediatamente, medidas radicais. Ao contrário. Em determinados momentos, observar também pode conduzir a um resultado favorável. Ou menos ruim. Cada caso é um caso e cada contexto é um contexto. Senão deixaríamos os computadores serem os gestores das empresas.

Noto, ainda mais, que o processo de tomada de decisão é, certamente, facilitado pela existência de um sistema atuante de governança corporativa. Nas organizações em que atuo como conselheiro, há intensos debates sobre os ajustes a serem feitos. O exercício da orientação estratégica, pelo conselho de administração e a possibilidade do CEO e da diretoria executiva poderem contar com opiniões e recomendações de experientes conselheiros auxilia na caminhada pelo caminho tortuoso. 

Tenho recebido vídeos e áudios de líderes em pânico, algo que em nada contribuirá às suas organizações e à sociedade. À liderança, mais do que nunca, cabe exercer seu papel em postura pró-ativa e serena, com formas concretas e criativas de se resolver – ou mitigar – confusas situações de conflitos ambíguos. O momento é muito difícil para todos.

Para quem se interessar, os links para adquirir o livro:

AMAZON US ou AMAZON BRASIL.

Fabio Malina Losso é membro associado do Instituto O Pacificador, Doutor em Direito Civil, com distinção, pela USP, é Visiting Scholar na Universidade de Chicago, onde é membro de conselho desde 2009, tendo sido Presidente do Conselho Internacional do Reitor da Harris School. É membro de conselhos de administração e consultivos no setor energético, financeiro e varejo.

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