Dentro de cinco anos, aeronaves de design futurista movidas a eletricidade capazes de decolar e pousar na vertical, como helicópteros, poderão ser vistas nos céus de grandes metrópoles globais. Essa é, pelo menos, a expectativa da Eve Urban Air Mobility Solutions, divisão da brasileira Embraer com foco no ecossistema de mobilidade urbana aérea. Nos primeiros dias de junho, a empresa anunciou parcerias com a companhia brasileira Helisul Aviation, uma das maiores operadoras de helicópteros da América Latina, e com a Halo, empresa com forte presença nos mercados de táxi aéreo e fretamento de helicópteros nos Estados Unidos e no Reino Unido.
Os dois acordos preveem a venda de um total de 250 eVTOLs, acrônimo em inglês para veículos elétricos que pousam e decolam na vertical, da Eve, sendo 200 para a Halo e 50 para a Helisul. Se tudo correr como o programado, as primeiras aeronaves serão entregues em 2026. A Halo divulgou que planeja operar sua frota de carros voadores em Londres e Nova York. Os veículos da Helisul deverão ser utilizados em grandes cidades brasileiras.
O negócio com a Halo, anunciado em 1o de junho, é a maior encomenda de eVTOLs já realizada até hoje. A transação não teve o valor divulgado, nem ficou claro se a Eve, cuja sede fica em Melbourne, na Flórida (EUA), recebeu algum pagamento antecipado como garantia da venda. Em comunicado ao mercado, a Halo, empresa controlada pelo fundo de investimento norte-americano Directional Aviation, informou que optou pelos veículos da Eve após avaliar cerca de uma dúzia de projetos de eVTOL.
A parceria com a Helisul, divulgada menos de uma semana depois, prevê, além da encomenda das aeronaves, a criação de uma estratégia para preparação do ecossistema de mobilidade aérea urbana (UAM) no Brasil. Eve e Helisul já trabalham em conjunto para criar soluções de UAM aproveitando a infraestrutura de táxi aéreo existente no Brasil, uma das maiores do planeta. Os valores do negócio não foram divulgados.
Há hoje no mundo uma corrida pelo desenvolvimento dessas aeronaves, apontadas por alguns especialistas como uma possível alternativa para reduzir os congestionamentos e melhorar a qualidade do ar nas grandes cidades. Além da Embraer, diversas companhias aeronáuticas, empresas de tecnologia e fábricas de automóveis, como Airbus, Uber, Google e Toyota, têm projetos em andamento de eVTOLs.
A Directional Aviation já é cliente da Embraer. Tem em seu portfólio jatos executivos Phenom, Praetor e Legacy, fabricados pela brasileira. “O excelente legado de design, certificação e produção de aeronaves que a Embraer traz para esse eVTOL posiciona a Eve com vantagens importantes no cenário competitivo”, informou o fundo em nota. “Acreditamos que a Eve está projetando uma aeronave bem preparada para a certificação inicial e, além disso, apresenta um histórico comprovado de produção.”
Para Andre Stein, presidente e CEO da Eve, a parceria com a Halo é um passo importante para a empresa assumir uma posição de liderança na indústria global da mobilidade aérea urbana. Já o acordo com a Helisul, segundo ele, permitirá inovar a infraestrutura brasileira de táxi aéreo e prepará-la para o futuro do transporte aéreo nos centros urbanos. “Estamos prontos para construir o futuro da mobilidade com nossos parceiros de forma colaborativa”, declarou Stein em comunicado à imprensa.
Primeiro voo virtual
A Eve foi criada em outubro de 2020 depois de passar alguns anos abrigada na incubadora de tecnologias disruptivas EmbraerX. A startup tem feito progressos no desenvolvimento de sua aeronave. Em julho do ano passado, seus engenheiros realizaram o primeiro voo em um simulador do eVTOL. Simuladores são sistemas que recriam em ambiente virtual aeronaves em voo, usados principalmente para o treinamento de pilotos. O conceito do eVTOL foi apresentado pela Embraer em maio de 2018.
A companhia ainda não divulgou maiores detalhes do projeto, mas a expectativa é que o veículo tenha capacidade para quatro ocupantes e alcance (capacidade de voar sem precisar abastecer) de cerca de 100 quilômetros, o que permitirá fazer viagens curtas entre cidades. A previsão é de que seja 80% mais silencioso do que os helicópteros atuais e tenha um custo operacional 50% mais baixo. Por ser movido a bateria elétrica, não emitirá gases poluentes.
Paralelamente ao projeto do eVTOL, a fabricante brasileira de aviões investe, por meio de sua subsidiária Atech, no desenvolvimento de um sistema de gerenciamento de tráfego aéreo que permita integrar a futura demanda de espaço aéreo urbano por essas novas aeronaves. A Eve também lidera um consórcio no Reino Unido para solucionar questões regulatórias e operacionais e viabilizar a operação de eVTOLS no país europeu.
Fonte: Pesquisa FAPESP