“Os homens sendo… por natureza, todos livres, e independentes, nenhum deles pode ser expulso deste estado e sujeitado aos poderes políticos de outro homem, sem o seu próprio consentimento. A Única maneira pela qual uma pessoa qualquer priva-se de sua liberdade natural e aceita as obrigações da sociedade civil é mediante acordo feito com outros homens com o fim de formarem por união uma comunidade, para o gozo confortável, seguro e pacífico de suas vidas em comum, desfrutando com uma segurança ainda maior contra qualquer estranho que não pertença a essa comunidade”. (John Locke – Segundo Tratado Sobre o Governo)
De certa forma podemos afirmar que em 1681, Locke consolidou a ideia de “consentimento” na base da sociedade civil, confrontando o anteriormente consagrado por Hobbes (O Leviatã impõe as regras) e opostamente, lançando as bases do comportamento republicano baseado no respeito a vida, a liberdade e a propriedade; coisa que ele escreve nas páginas seguintes. Essa passagem é importante não só para o conceito de representação política, onde um eleito pela maioria tem o direito assegurado de representá-los e por eles decidir coisas de estado, como de explicitar um certo acordo tácito para estabilidade política, servindo inclusive ao bom uso de legitimar a revolução gloriosa Inglesa alguns anos à frente. Se considerarmos o segundo conceito republicano de liberdade que nas palavras de Locke são a mola propulsora “da invenção e das artes como indústria que pode servir para multiplicar mil vezes o trabalho e as conveniências da vida”; sendo esse o alicerce do liberalismo que propagou-se pelo mundo nos séculos seguintes.
Quero refletir sobre o que aqui buscamos, em levar adiante a engenhosidade do homem moderno na direção do indivíduo como empreendedor e agente de mudança dos comportamentos socioculturais em curso na nossa sociedade. Podemos de antemão assegurar que “…multiplicar mil vezes o trabalho e as conveniências da vida” é uma conotação direta da prosperidade, um dos objetivos a que consagramos nossos esforços para garantir um legado melhor a nossos descendentes. Fica claro no texto de Locke que o excesso de concessões do homem ao estado e principalmente o desacordo dos atos praticados por seus representantes com os anseios destes primeiros, certamente irão tolher sua liberdade, colocando em risco sua prosperidade e avanço social. Um passo além está nosso propósito inarredável de garantir com inúmeros esforços esse conjunto de ideias semeadas há tanto tempo, mas que a cada dia se mostram capazes de suportar a fortuna de várias sociedades mundo afora. Finalizo com a reflexão de que não existe mundo homogêneo em que a vida, a liberdade, a propriedade e o propósito estejam assegurados; sendo nosso dever lutar diuturnamente e sem trégua na sua conquista.
Virgilio Álvares da Silva
TSX Advisors – Associado