Ao Longo da história temos muitos exemplos de povos que ao compreenderem o valor da liberdade, empenharam esforços para garantir e disseminar esse valor a todos os indivíduos de sua sociedade. Compreender que a Liberdade não é um direito de grupo previamente estabelecido mas sim que ela vale para cada individuo singularmente e que se isso for conquistado, então teremos uma sociedade robusta e capaz de gerar prosperidade.
Mesmo quando o homem age em grupo, sociedade ou país, é a liberdade de cada um, a condição para liberdade de todos. Edmund Burke em 1774 na obra Reflexões Sobre a Revolução Francesa já afirmava no parlamento que “…dar opinião é direito de todos os homens, respeitado aquilo que prescreve a constituição composta por todos…”. Se meu vizinho, sem violar a constituição (responsabilidade com o todo) for impedido de ter a propriedade de suas realizações então não vivemos propriamente no estado de direito.
Nos últimos séculos, por ser a liberdade uma das verdades que sustentaram a construção de todas as sociedades prosperas, e isso se deveu por esforços constantes, tivemos como consequência a real melhora de vida de muitos. Mas nem todas as sociedades “alcançam a superfície”, pois na ausência da liberdade continuam imersas nas sombras da história e no longo prazo não sustentam uma sociedade engenhosa.
Em 1875 o jurista inglês Henry J. S. Maine mostrou a em seu livro Governo Popular – Quatro Ensaios, como a propriedade está na base histórica das liberdades individuais não podendo estas serem desentrelaçadas da base de uma sociedade prospera que lidera o desenvolvimento de conhecimento e capacidades econômico-sociais.
Na geopolítica do século XX, se observarmos atentamente as ações dos EUA desde o fim da primeira guerra mundial, podemos com total segurança dizer que o “estado” americano entendeu o papel de um líder global e teve sucesso na sua estratégia. Os EUA decidiram de forma clara e inequívoca participar ativamente da construção e da administração de regimes locais (países que aceitaram sua ajuda) que surgiram mundo afora e também algumas potências tradicionais compreenderam que essa participação ativa dos EUA era benéfica para todos. Com efeito, após a segunda guerra mundial as potências europeias tradicionais e o Japão passaram a entender que os regimes nascentes, sob a liderança dos EUA, não ameaçavam seus interesses, mas pelo contrário, eram benéficos aos seus objetivos de paz e de reconstrução de suas economias. Vejam a recuperação do Japão, a criação da Zona do Euro, o surgimento dos tigres asiáticos em especial a Coreia do Sul, a prosperidade da Austrália e Canadá e dois outros fatores decisivos, a força e segurança que temos a 80 anos do dólar na economia mundial e a expansão da tecnologia e inovação baseados na curva de prosperidade STEM (Science, Technology, Engineering e Mathematics) que hoje vivemos em todo o globo com decisiva participação da sociedade americana e seus empreendedores. Você goste ou não dos EUA, já foi apresentado aos fatos históricos da Guerra Fria que gerou uma forte polarização EUA-URSS por décadas. No entendimento dos estrategistas Soviéticos, o melhor caminho era aumentar a polarização e a rivalidade aos americanos usando atores menores como Cuba e Coreia do Norte. Os resultados você conhece bem. Mas um importantíssimo aprendizado a URSS deixou como legado e que agora deve ser entendido no contexto de uma China que emerge como candidata a liderar o mundo. Interessante é que esse legado a China de XI Jinping não poderá fingir que desconhece. Ao “edificar” a famosa cortina de ferro, isolando-se, a URSS achou que se desenvolveria (de forma estatal) a ponto de expandir seu domínio sobre grande parte do globo. Seria estrategicamente esperar que um cubo de gelo atirado num balde d’água congelasse toda a água do balde. Ocorreu o contrário e uma fragmentação em cadeia desmoronou toda a URSS no final da década de 80. Putin hoje rebola para salvar a Rússia no contexto europeu e mundial e o crescimento da China além de drenar suas forças, estabeleceu um novo polo de riqueza e dinamismo na Ásia com capacidade a cada dia de criar uma nova polarização com os EUA nos vários mercados globais. Se olharmos para trás, de fato a pragmática integração da China à economia mundial iniciada por Deng Xiaoping aponta para uma direção bem diferente da estratégia Russa do cubo de gelo. Mas o totalitarismo (partido único) e ausência de liberdade (poder estatal absoluto) talvez seja a grande questão posta diante de Xi Jinping que é sabedor dos acontecimentos decorrentes do colapso na antiga URSS, fruto do estatismo exacerbado. Não sabemos até que ponto uma China próspera e integrada à economia e à política mundial pode ser compatível com um Estado fechado e autoritário e em querendo liderar o mundo terá que por exemplo ajudar humanitariamente outros países. Será que existe um outro tipo de democracia na manga do Sr. XI Jinping ? Quem viver verá…
Virgilio Álvares da Silva
Associado do Instituto O Pacificador