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Para além do relativo: A importância da beleza

A importância da beleza atualmente reside não apenas em sua capacidade de nos encantar e inspirar, mas também em sua capacidade de nos conectar com o transcendental e nos lembrar da nossa humanidade compartilhada.

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Desde os primórdios da humanidade, o conceito de beleza tem sido objeto de profunda reflexão e contemplação por parte de filósofos em busca de compreensão e significado. Aristóteles, Platão, David Hume, Immanuel Kant, Roger Scruton, São Tomás de Aquino e Edmund Burke são alguns dos pensadores que contribuíram significativamente para essa discussão ao longo dos séculos.

Antes de tudo é crucial compreendermos a importância desse conceito em nossa vida cotidiana. A beleza, em sua essência, transcende a mera estética; ela é intrínseca à nossa experiência humana, influenciando nossas percepções, emoções e interações com o mundo ao nosso redor. A busca pela beleza não se restringe apenas à apreciação de obras de arte ou paisagens naturais deslumbrantes; ela permeia todas as esferas da existência, desde a maneira como nos relacionamos com os outros até como percebemos a nós mesmos.

No entanto, é inegável que ao longo do tempo, o conceito de beleza tem sido submetido a uma série de transformações e deturpações, especialmente sob a ótica da arte contemporânea. Roger Scruton, em sua obra “Beleza: Ato desinteressado”, argumenta que a arte contemporânea muitas vezes abandonou a busca pela beleza em favor de uma busca por chocar e provocar, negligenciando assim a importância fundamental da estética e do encantamento na experiência humana.

Diante desse contexto, torna-se importante revisitar os conceitos clássicos de beleza propostos pelos filósofos mencionados anteriormente e refletir sobre sua relevância em um mundo onde a estética é frequentemente relegada a segundo plano. Afinal, o que podemos aprender com Aristóteles sobre a harmonia e proporção, com Platão sobre a beleza como manifestação do divino, com Kant sobre a beleza como experiência desinteressada, com São Tomás de Aquino sobre a beleza como reflexo da ordem divina e com Edmund Burke sobre a beleza como fonte de prazer e sublimidade?

Os conceitos clássicos de beleza

Aristóteles, em sua obra “Ética a Nicômaco”, argumenta que a beleza está intrinsecamente ligada à ideia de proporção e harmonia. Para o filósofo grego, a beleza é encontrada na perfeição das formas e na simetria dos objetos, refletindo a ordem e a regularidade presentes na natureza e no universo. Essa concepção aristotélica de beleza sugere que a estética é uma manifestação da própria estrutura do cosmos, proporcionando uma sensação de equilíbrio e plenitude ao observador.

Platão, por sua vez, concebia a beleza como uma forma transcendental, uma ideia eterna e imutável que transcende o mundo sensível. Em seu diálogo “O Banquete”, Platão descreve o “Belíssimo” como o objeto de desejo supremo, capaz de conduzir o indivíduo à contemplação das formas ideais e à busca pela perfeição moral. Nessa perspectiva platônica, a beleza é mais do que uma mera qualidade estética; ela é uma porta de entrada para o conhecimento e a verdade.

David Hume, filósofo empirista do século XVIII, abordou a beleza de uma maneira mais subjetiva, argumentando que ela reside na mente do observador. Para Hume, a beleza é uma qualidade que desperta sentimentos de prazer e satisfação, derivados da percepção de ordem, proporção e harmonia. Essa abordagem subjetiva da beleza destaca a importância das experiências individuais na apreciação estética e reconhece a diversidade de gostos e preferências.

Immanuel Kant, em sua “Crítica da Faculdade do Juízo”, distingue entre o belo e o sublime, atribuindo à beleza uma dimensão universal e desinteressada. Para Kant, a experiência do belo é caracterizada por uma sensação de prazer desinteressado e uma apreciação puramente estética, desvinculada de interesses pessoais ou utilitários. Essa concepção kantiana de beleza enfatiza sua capacidade de transcender as limitações do indivíduo e unir diferentes perspectivas em torno de um objeto ou obra de arte.

São Tomás de Aquino, influenciado pela filosofia de Aristóteles, concebia a beleza como uma manifestação da ordem divina e uma expressão da perfeição de Deus. Para Aquino, a beleza está intimamente ligada à bondade e à verdade, refletindo a harmonia e a integridade presentes na criação divina. Essa visão teológica da beleza ressalta sua importância como uma via de acesso ao divino e uma fonte de inspiração espiritual.

Edmund Burke, por fim, explorou a beleza como uma fonte de prazer e sublimidade, capaz de evocar sentimentos de admiração e reverência. Em sua obra “Uma Investigação Filosófica sobre a Origem de Nossas Ideias do Sublime e do Belo”, Burke distingue entre o belo, associado à suavidade e à delicadeza, e o sublime, associado à grandeza e à grandiosidade. Para Burke, a experiência estética é uma forma de escapismo e elevação, permitindo ao indivíduo transcender as preocupações mundanas e entrar em contato com o sagrado e o transcendental.

A deturpação contemporânea da beleza

Embora os conceitos clássicos de beleza propostos por filósofos como Aristóteles, Platão, Kant e outros tenham resistido ao teste do tempo, é inegável que a noção de beleza foi gradualmente desafiada e subvertida no contexto da arte contemporânea. O movimento moderno, com sua ênfase na originalidade, subjetividade e transgressão, levou a uma rejeição dos padrões estéticos tradicionais em favor de uma estética dita experimental e provocativa.

Roger Scruton, em sua crítica à arte contemporânea, argumenta que muitos artistas abandonaram a busca pela beleza em prol da busca por choque e confronto. Sob a influência do movimento pós-moderno, a arte tornou-se cada vez mais abstrata, conceitual e muitas vezes desconectada do público em geral. Em vez de inspirar admiração e encantamento, muitas obras de arte contemporânea provocam desconforto, confusão e até mesmo repulsa.

Essa deturpação da beleza na arte contemporânea pode ser atribuída a uma série de fatores. Em primeiro lugar, o desejo de romper com as tradições estéticas do passado levou os artistas a desafiar as noções convencionais de beleza e propor novas formas de expressão artística. Em segundo lugar, a crescente comercialização e mercantilização da arte incentivou a busca por obras escandalosas e controversas que atraiam a atenção da mídia e do mercado.

Além disso, a influência da crítica de arte e dos círculos intelectuais também desempenhou um papel importante na promoção de uma estética mais conceitual e provocativa. Muitos críticos e curadores de arte passaram a valorizar a originalidade, a transgressão e a inovação em detrimento da beleza tradicional, contribuindo assim para a marginalização da estética clássica em favor de uma estética mais subversiva e desafiadora.

Essa deturpação contemporânea da beleza levanta questões importantes sobre o papel da arte na sociedade e o significado da estética em nossas vidas. Será que a busca pelo choque e pela originalidade a todo custo realmente enriquece nossa experiência estética e nos aproxima da verdadeira beleza? Ou será que estamos perdendo de vista o verdadeiro propósito da arte, que é inspirar, elevar e enriquecer nossas vidas?

Resgatando a importância da beleza clássica

Diante da deturpação contemporânea da beleza na arte e na cultura, é imperativo resgatarmos a importância dos conceitos clássicos de beleza propostos por filósofos como Aristóteles, Platão, Kant e outros. A beleza, longe de ser uma mera questão de preferência ou convenção cultural, é uma dimensão fundamental da experiência humana, capaz de nos conectar com o divino, inspirar admiração e elevar nossa alma.

Ao reconhecermos a beleza como uma qualidade transcendental, muito além das limitações do tempo e do espaço, podemos redescobrir sua capacidade de nos unir como seres humanos e nos elevar além das preocupações mundanas. Os conceitos clássicos de beleza nos convidam a contemplar a harmonia e a proporção, a buscar a perfeição moral e a reconhecer a presença do divino em nosso meio.

A importância da beleza atualmente reside não apenas em sua capacidade de nos encantar e inspirar, mas também em sua capacidade de nos conectar com o transcendental e nos lembrar da nossa humanidade compartilhada. Que possamos, portanto, buscar a beleza em todas as suas formas e reconhecer sua presença em nossas vidas, agora e sempre.

IoP

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