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Protagonismo: o maior legado de Ayrton Senna

"O brasileiro só aceita título se for de campeão. E eu sou brasileiro."

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Há exatos 30 anos, o Brasil parava para lamentar a perda de um de seus maiores ícones: Ayrton Senna. Os jornais estampavam manchetes de um fato que parecia impossível. O país inteiro mergulhou em uma onda de tristeza. Senna não era apenas um piloto de Fórmula 1, mas uma figura que transcendia as pistas, personificando valores como protagonismo, coragem e determinação.

Se você tem menos ou pouco mais de 30 anos só vai conseguir compreender os feitos do piloto brasileiro assistindo vídeos antigos na Internet, provavelmente das suas histórias inimagináveis. O que podemos dizer é que a grande habilidade de Senna nas pistas era inegável, com uma dedicação única e seu caráter inabalável que o tornavam verdadeiramente inspirador. Tínhamos orgulho de dizer que o Brasil estava na elite do automobilismo e o mundo reconhecia isso.

Senna tinha o dom de lidar com o impossível, revertendo a possibilidade de derrota em uma demonstração de determinação para conquistar a vitória. O piloto tinha o dom de transformar situações bastante complexas em algo tangível. Além disso o seu carisma, talvez, o tenha tornado mais popular do que outros grandes pilotos brasileiros, também muito importantes, como Emerson Fittipaldi e Nelson Piquet.

O dia da fatalidade deixou uma marca indelével em nossa memória. A comoção foi generalizada, as ruas ficaram em silêncio, em respeito ao ídolo que se fora. Mas, mesmo na tristeza, seu legado permaneceu vivo. Senna nos ensinou que a verdadeira grandeza está na maneira como enfrentamos as adversidades, que o impossível era viável, na busca incessante pela excelência e na integridade de nossas ações.

Senna se tornou um herói nacional. Com seu posicionamento e atitudes passou a influenciar toda uma geração. A força, a garra, o protagonismo e a habilidade de lidar com o improvável na busca pela vitória lhe conferiu a imagem de um líder inspirador.

Carl Jung, psiquiatra, psicanalista e psicoterapeuta suíço, foi responsável por criar e disseminar o conceito dos arquétipos como padrões de comportamento e personalidade. Para Jung o nosso organismo, nossa mente também guardam modelos a serem seguidos, seja pela referência de algum familiar (mãe, pai, tio, tia, avós), por heróis fictícios ou figuras icônicas, como Ayrton Senna – e esses modelos são chamados de arquétipos.

Dentre tantos, um dos arquétipos idealizados por Jung foi o do herói. Presente no inconsciente coletivo, representa a busca pelo auto aperfeiçoamento e pela superação de desafios. Esse arquétipo é influente na cultura contemporânea, manifestando-se em diferentes formas, como figuras de heróis em filmes, quadrinhos e na literatura.

Em 1941, Joe Simon, desenhista, roteirista e editor de histórias em quadrinhos, criou o Capitão América, um personagem que tinha como protagonista um cidadão comum, morador dos subúrbios de Nova Iorque. Simons idealizou o personagem com o intuito de que jovens americanos tivessem uma inspiração e a referência de um herói resiliente, forte, que fosse o guardião da justiça e que atenuasse toda a dor advinda das perdas da Segunda Guerra Mundial. Simons basicamente criou a história de um cidadão americano comum, nascido em um lugar comum, que se levantava e lutava contra o mal. Não por acaso, nas histórias, o primeiro grande inimigo do Capitão América foi Hitler. A batalha contra o arquirrival tinha o objetivo de elevar o senso de justiça e fortalecer o patriotismo de um país devastado pela guerra. “Naquela época os heróis combatiam vilões e monstros”, disse Simon em uma entrevista à AFP, em 2011. Assim como Senna, o Capitão América inspirou toda uma geração, com seus símbolos e narrativas heroicas, impactando pessoas comuns em sua visão de mundo e pela busca por um objetivo virtuoso.

O brasileiro só aceita título se for de campeão. E eu sou brasileiro.

Ayrton Senna

Em um período histórico marcado por incertezas e muitas dificuldades econômicas no Brasil, Senna surgiu como uma luz de esperança para o nosso povo. Suas vitórias não eram apenas conquistas esportivas, mas simbolizavam a capacidade de um indivíduo superar desafios inimagináveis e alcançar grandes feitos. A sensação era de euforia, de um país que tinha uma referência a ser admirada e que, a cada vitória, aumentava o senso de orgulho do país.

Três décadas se passaram, mas os valores de Senna permanecem. Vários de nossos ídolos muitas vezes falham em ser exemplos mas Senna se destacou como um pilar de força resiliente, moral e com foco no protagonismo para o bem, para o crescimento pessoal. Ele nos ensinou que ser brasileiro é lutar com paixão e honra, não importando as adversidades. Mais do que isso, foi capaz de mostrar ao mundo o seu amor pelo país, trazendo um enorme senso de orgulho.

Em tempos atuais, em que a verdade parece relativa, os heróis deixam dúvidas sobre o discernimento do bem e do mail, a ética se tornou relativa e a moralidade é posta à prova, a lembrança de Senna e seu legado nos convoca a reavaliar nossos valores e a buscar o melhor de nós mesmos, por nós mesmos.

A história de Senna é um manifesto de como a virtude e a fortaleza podem elevar toda uma nação perante ao mundo. Um dos maiores pilotos brasileiros nos mostrou que, mesmo em uma sociedade degradada e desacreditada, mesmo em situações em que tudo parece impossível, há espaço para a esperança e para heróis que nos inspirem a ser protagonistas de nossa própria história. A mensagem de Senna era simples e clara: busque a sua verdade, não dependa dos outros, somente de você. Lute até o fim, mas lute!

O Brasil carece de protagonistas como Senna.

Jorge Quintão – IoP

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