Victor Hugo, o hábito e o tempo

Como a jornada de Jean Valjean em Os Miseráveis e os ensinamentos sobre hábitos podem ajudar a criar uma rotina significativa e alinhada aos seus valores.

Victor Hugo, em sua obra-prima Os Miseráveis, nos apresenta Jean Valjean, um homem marcado pelo peso do passado, mas guiado pela busca de redenção. Após quase duas décadas preso por roubar um pão para alimentar sua família, Valjean é poupado por um ato de misericórdia do Bispo de Digne, que lhe ensina uma lição poderosa: o tempo que lhe resta deve ser usado para o bem.

O que torna a história de Valjean tão impactante não é apenas sua luta externa contra a injustiça e a perseguição, mas também sua batalha interna para se reinventar. Ele compreende que a vida é composta de escolhas diárias e que, ao criar hábitos significativos e segui-los, pode transformar o caos de seu passado em um presente cheio de propósito.

Marco Aurélio, em Meditações, escreveu: “Você pode deixar a vida agora. Que isso determine o que você faz, diz e pensa.” O imperador nos lembra que o tempo é o recurso mais precioso que temos e ao mesmo tempo, o mais escasso. Viver com propósito significa utilizá-lo de forma consciente e intencional. Cada dia é uma página em branco, um presente que, se negligenciado, jamais será recuperado.

Contudo, muitos de nós nos vemos aprisionados em uma rotina desconexa, sem perceber que são os hábitos que moldam quem somos. Criar uma rotina saudável é a chave para transformar o tempo em aliado, e não em algo que escorre pelos dedos. Essa é a essência da jornada que empreendemos ao construir hábitos que realmente importam.

Após anos de luta contra um passado marcado pela injustiça, Valjean buscava um novo propósito. Ele sabia que mudanças não acontecem da noite para o dia e essa percepção guiou-o exatamente quando o protagonista assume a identidade de Monsieur Madeleine, um próspero empresário e benfeitor de Montreuil-sur-Mer. Ele sabe que suas boas intenções precisam de disciplina para se traduzir em ações consistentes. Assim, começa a sua jornada para estruturar sua vida com a mudança de pequenos hábitos diários, que fortalecem sua missão de ajudar os necessitados e resgatar sua própria humanidade.

Inspirado pelas lições que aprendera com o Bispo de Digne, Valjean decide, então, dividir seu tempo de forma intencional, dedicando-se a ações que reflitam seus valores. Para ele, cada momento passou a ser um passo rumo à excelência.

Somos o que fazemos repetidamente.

A excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito.

Aristóteles

O Tempo: um bem escasso

Valjean talvez não tivesse consciência, mas o segredo para uma vida significativa estaria em organizar seu tempo e priorizar o que realmente importa. Autores como Charles Duhigg e James Clear estudaram profundamente o uso do tempo e chegaram a conclusões que podemos aplicar em nossas vidas:

Divisão do dia (24 horas):

1) Sono – 33% (8 horas):

O descanso é essencial para regenerar o corpo e a mente, permitindo-nos enfrentar os desafios diários com vigor. Priorizar um horário regular de sono é indispensável, como ensina Matthew Walker em Por Que Nós Dormimos.

2) Trabalho e responsabilidades – 33% (8 horas):

Durante o dia, Valjean dedica-se a gerir sua fábrica e ajudar os menos afortunados, dividindo o tempo em blocos de alta produtividade. Cal Newport, em Deep Work, sugere evitar distrações e focar em atividades que geram impacto real.

3) Tarefas e cuidados pessoais – 17% (4 horas):

Higiene, alimentação e outras atividades diárias devem ser realizadas com atenção plena, encontrando propósito até nos gestos mais simples, como sugere Thich Nhat Hanh.

4) Desenvolvimento pessoal – 17% (4 horas):

Esse tempo é dedicado ao crescimento físico, mental e espiritual, dividido em:

Exercícios físicos – 6% : Caminhadas, treinos ou calistenia para cuidar do corpo.

Leitura e aprendizado – 6% : Ler um livro ou estudar um novo tema, alimentando a mente.

Meditação e reflexão – 3% : Conectar-se consigo mesmo, organizando pensamentos.

Hobbies ou lazer – 2% : Relaxar cuidando de um jardim, pintando, desenhando ou em outras atividades criativas.

Construindo hábitos

Valjean sabia que, para transformar sua vida e manter sua promessa ao Bispo, precisava construir hábitos sólidos. A partir de conceitos descritos por Charles Duhigg em O Poder do Hábito, podemos segmentar sua abordagem:

1) O ciclo do hábito:

Gatilho: Escolher sinais claros, como o nascer do sol, para iniciar a meditação.

Rotina: Praticar ações simples e repetitivas, como, estudar, ler, se exercitar, etc.

Recompensa: Sentir a satisfação de bem-estar mental e do corpo, reforçando o hábito.

2) Pequenos passos:

Valjean começou com práticas pequenas, como dedicar cinco minutos à leitura, aumentando gradualmente até se tornarem automáticas.

3) Melhoria contínua:

Adotar o princípio de melhorar 1% a cada jornada, comprometendo-se com avanços simples e consistentes.

Superando resistências e honrando o tempo

Tendemos a nos manter inertes, presos em velhos padrões. Valjean enfrentava momentos de dúvida, mas aplicava as estratégias descritas por James Clear em Atomic Habits:

1) Facilitar o processo: Deixar itens necessários (livro, roupas de treino) visíveis e prontos para uso.

2) Recompensar-se: Celebrar pequenas vitórias, como um chá após a meditação ou contemplar o jardim após o treino.

3) Reforçar sua identidade: Enxergar-se não como alguém “tentando mudar”, mas como um protagonista de sua própria jornada, comprometido com a excelência.

O propósito no centro de tudo

Valjean compreendeu que o segredo para perseverar estava em seu propósito. Ele se lembrava do porquê por trás de cada hábito: tornar-se uma pessoa melhor para si mesmo e para sua comunidade.

Uma vida não examinada não vale a pena ser vivida.

Sócrates

Os estoicos tinham uma relação muito íntima com o tempo e nos ajudam a refletir sobre como usamos o nosso dia. Uma das formas de medir o que fizemos é nos perguntar: “Usei bem o tempo que me foi dado hoje?”. Essa prática de avaliação constante nos mantém no caminho, corrigindo pequenos desvios antes que se tornassem grandes obstáculos. Funciona como um “termômetro” para que nós mesmos possamos regular a nossa jornada.

A história de Jean Valjean em Os Miseráveis é um bom exemplo de como o tempo e os hábitos moldam quem somos. Ele nos ensina que, ao estruturar nossos dias com intenção, podemos nos libertar do passado e criar um futuro alinhado aos nossos valores.

E então? Que tal seguir o exemplo de Valjean? Use as próximas 24 horas para construir uma rotina que reflita suas prioridades e transforme pequenos passos em grandes conquistas.


IoP

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