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A jornada do herói e o protagonismo – Como aplicar as lições à sua vida

É muito mais do que uma forma para entender uma história de um filme, é uma estrutura para entender a si mesmo.

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Imagem digitalmente gerada no Adobe Photoshop

A Jornada do Herói, conforme definida por Joseph Campbell em seu livro “O Herói de Mil Faces”, é mais do que apenas um modelo para contar histórias em filmes, livros ou jogos, é um espelho que reflete nossas próprias lutas e triunfos, esperanças, medos e um guia para a jornada do protagonista na vida real.

Nossa história é pontuada por momentos de autodescoberta e crescimento pessoal, muito semelhante à do herói das narrativas fantásticas. A jornada fornece uma estrutura para entender as mudanças e funciona como uma bússola que nos dá uma direção. Ao compreender as etapas da jornada, podemos navegar melhor em nossos próprios caminhos, identificando nossos mentores, nossos desafios, enfrentando nossos medos, para que possamos sair transformados.

Ao passar por cada estágio, é possível identificar onde você está em sua própria jornada, podendo inclusive compreender o que pode vir pela frente ou quais triunfos o aguardam e como você pode percorrer a jornada do herói com foco, coragem e sabedoria.

O mundo comum de pessoas comuns

Para Campbell, na narrativa, o mundo comum nos dá uma visão do personagem do herói antes da jornada, fornecendo uma base para o desenvolvimento posterior do personagem. Em nossas vidas, reconhecer nosso “mundo comum” nos permite identificar áreas para crescimento ou mudança pessoal.

Saber onde você está é um marco, um ponto de partida para o início de uma jornada. Talvez mais importante do que saber para onde ir, saber sua posição agora é uma referência importantíssima. De nada adianta se você tem um mapa e uma bússola se você não sabe onde está. O ponto de início é essencial para traçar a sua rota, o seu caminho, sair da inércia. Para compreender isso não é necessário ser um superherói.

E por mais que o termo “herói” seja usado para descrever um personagem, geralmente com superpoderes, muitas vezes ele não passa de uma pessoa comum, como eu e você, de carne e osso. É aí que a jornada fica interessante, pois nos leva a refletir que todos nós podemos agir para descobrir o herói oculto dentro de nós e enfrentar os nossos desafios com coragem e determinação, por mais difíceis que possam parecer.

Chamado à Aventura

Segundo Campbell, neste estágio inicial o herói é convocado a deixar sua zona de conforto e embarcar em uma jornada. É um convite para sair da rotina e enfrentar desafios que o levarão ao crescimento pessoal.

Na vida real o chamado pode ser uma situação adversa, a perda do emprego, uma mudança de cidade, a notícia de uma doença que exija uma alteração de hábitos ou a morte de uma pessoa amada, por exemplo. São situações que fazem com que o indivíduo tenha que mudar radicalmente a sua rotina, sua forma de viver e se relacionar.

Recusa da Chamada

O herói pode inicialmente resistir ao chamado, com medo do desconhecido ou relutante em abandonar o que é familiar. No entanto, ele eventualmente percebe que precisa aceitar o desafio para encontrar seu verdadeiro potencial, para mudar sua condição atual, mas muitas vezes o receio é maior do que a ação e então a decisão é a de se manter em sua zona de conforto.

Campbell afirma que “com frequência, na vida real, e com não menos frequência, nos mitos e contos populares, encontramos o triste caso do chamado que não obtém resposta; pois sempre é possível desviar atenção para outros interesses. A recusa à convocação converte a aventura em sua contraparte negativa”.

Neste caso pode ser que na jornada surja um personagem importante, que ajude o protagonista a ganhar um “empurrão”: o mentor.

Encontro com o Mentor

Durante a jornada, o herói encontra um mentor, uma figura sábia e experiente que o guia e oferece conselhos valiosos. O mentor geralmente é alguém que provoca, encoraja e ajuda o herói a desenvolver habilidades e confiança necessárias para enfrentar os obstáculos que estão por vir.

Na vida real pode ser um amigo, um familiar, um professor, algum colega de trabalho que se solidarize com a angústia do protagonista e se aproxima afim de auxiliá-lo no enfrentamento da jornada.

Provações

O herói enfrenta uma série de provações e desafios que testam sua coragem, força e determinação. Essas dificuldades são oportunidades para o herói aprender, crescer e superar seus próprios limites.

Aproximação da Caverna Profunda

O herói se prepara para enfrentar sua maior provação, sua “caverna profunda”, que representa seus medos e obstáculos internos. É um momento crucial em que ele precisa confrontar a si mesmo para superar suas limitações.

A Crise Suprema

Neste estágio, o herói enfrenta sua maior provação e está em um momento de vida ou morte. Ele precisa reunir toda a sua coragem, determinação e sabedoria para superar o desafio final. Na maioria das vezes ele estará sozinho e aqui é possível que surja o pensamento de desistência e retorno ao estado inicial de comodismo. Mesmo com medo, muitos protagonistas resolvem seguir, quebrando barreiras impostas por sua percepção pessoal. É onde geralmente acontece a “virada de chave” da história.

O Retorno Transformado

Após a superação da crise, o herói retorna ao seu mundo, diferente, transformado. Ele adquiriu sabedoria, habilidades e uma nova perspectiva que o capacita a contribuir de maneira significativa para sua comunidade e para o mundo.

Se observarmos as etapas da jornada do herói, criadas por Campbell, podemos associá-las a algum momento da nossa vida em que tivemos que tomar decisões difíceis ou que estivemos diante de uma escolha importante, ou mesmo nos encontramos com pessoas que nos ajudaram a superar uma determinada situação difícil. A ficção encontra a realidade quando a atitude de protagonizar uma mudança nos é imposta, seja por escolha ou por falta dela.

Protagonismo e a jornada do Herói

A jornada do herói, ou monomito, conforme descrito por Joseph Campbell, é mais do que um modelo para narrativas – é um projeto para a vida. Essa estrutura arquetípica pode ser associada ao conceito de protagonismo para o bem, pois ela aborda o processo de crescimento e desenvolvimento pessoal ao longo de uma jornada.

No início da história, o herói é convocado para uma aventura ou desafio. Isso pode ser comparado ao chamado para assumir um papel de protagonismo em nossa própria vida, um novo emprego, um posto de responsabilidade em um projeto, empreender, morar em outro país ou escolher um outro rumo para a vida onde somos chamados a fazer a diferença e buscar o bem. É importante reconhecer esse chamado, analisar o cenário e, em caso de aceite, estar disposto a enfrentar os desafios.

Ao assumir o protagonismo, podemos encontrar obstáculos e adversidades que nos testam. Desenvolvemos habilidades, superamos medos e podemos aprender com suas experiências para nos tornar agentes de mudança positiva.

A jornada do herói também envolve o encontro com mentores e aliados, que oferecem orientação e apoio ao protagonista. Pode ser um colega no trabalho, um chefe ou mesmo um familiar, uma pessoa de confiança que nos ajude a enxergar aquilo que não estamos conseguindo ver. No contexto do protagonismo para o bem, isso pode ser visto como a importância de buscar conhecimento, aprender com aqueles que são referências em ética, justiça e generosidade. Esses mentores podem nos ajudar a desenvolver habilidades e valores necessários para enfrentar os desafios que encontramos ao longo da jornada.

Conforme avançamos na jornada, enfrentamos uma crise suprema, um ponto crucial onde somos testados e confrontados com nossos próprios limites. É nesse momento que o protagonista precisa mobilizar todas as suas qualidades, coragem e sabedoria para superar a adversidade e alcançar a transformação pessoal.

Assim, a jornada do herói pode ser vista como um convite para o desenvolvimento gradual do protagonismo para o bem. À medida que enfrentamos desafios, buscamos orientação, aprendemos com nossas experiências e superamos obstáculos, nos tornamos agentes ativos em busca do bem comum. A jornada do herói nos inspira a assumir a responsabilidade por nossas vidas e a buscar constantemente nosso crescimento pessoal.

É importante ressaltar que a jornada do protagonismo para o bem não está restrita a grandes feitos ou eventos extraordinários. Cada indivíduo, em seu dia a dia, tem a oportunidade de ser protagonista e fazer a diferença por meio de pequenas ações, devendo desenvolver virtudes como coragem, generosidade, honestidade, resiliência, empatia, justiça, sabedoria, lealdade, dentre outras.

A jornada do herói nos mostra que a transformação pessoal e o protagonismo para o bem são possíveis para qualquer um que esteja disposto a se comprometer e tomar a iniciativa. Ao compreendermos essa estrutura arquetípica e aplicarmos seus princípios em nossas vidas, podemos nos tornar protagonistas de nossa própria história. Com o tempo é possível que o protagonista se torne o mestre, pois adquiriu sabedoria suficiente para ajudar outras pessoas que estejam no início de suas jornadas.

E então? Tudo pronto para se tornar protagonista?


Jorge Quintão – IoP

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