Por que a beleza importa?

A beleza está ao nosso redor, esperando para ser descoberta e apreciada. Redescobri-la é compreender, de uma forma mais profunda, a condição humana.

Em meio ao turbilhão de questionamentos sobre a busca pela beleza na contemporaneidade, um nome emerge com destaque: Sir Roger Vernon Scruton, filósofo britânico cuja dedicação às demandas do belo foram notórias.

Professor emérito das universidades de Boston e St. Andrews, além de membro da Sociedade Real de Literatura da Grã-Bretanha, Scruton se consagrou como um dos mais influentes pensadores atuais, seguindo os passos de figuras como Aristóteles e Edmund Burke, dentre outros. Sob a ótica conservadora, a beleza não é apenas uma estética, mas uma necessidade vital para a existência humana, uma vez que ela confere significado e continuidade à vida.

O pensamento conservador, muitas vezes mal compreendido, encontra em Scruton um de seus mais sólidos defensores, entendendo a vida em sociedade como uma parceria entre os vivos, os mortos e os que estão por nascer. Essa visão fundamentou sua filosofia, especialmente no que diz respeito à arte e à arquitetura. Para Scruton, a arte não é apenas uma expressão estética, mas uma fonte de significado que conecta as pessoas ao sagrado e ao transcendente.

O Sublime e o Belo de Edmund Burke

Edmund Burke abordou indiretamente o tema da beleza em sua obra mais conhecida, intitulada “Uma Investigação Filosófica sobre a Origem de Nossas Ideias do Sublime e do Belo” (1757).

Em sua investigação, Burke explorou não apenas o sublime, mas também o belo, embora o sublime seja o foco principal do texto. Ele discutiu as sensações que surgem em nós diante de certos objetos naturais ou situações, e como essas sensações nos afetam emocionalmente.

Burke descreveu o belo como algo que nos traz prazer suave e agradável, enquanto o sublime foi associado a sensações mais intensas e até mesmo aterrorizantes. Ele argumentou que o belo está relacionado à simetria, à harmonia e à proporção, elementos que nos proporcionam uma sensação de prazer estético, comumente encontrado nas formas naturais. Assim, mesmo que sua obra principal se concentrou mais no sublime, Burke ofereceu insights valiosos sobre a natureza e os efeitos da beleza, influenciando significativamente o pensamento de Scruton.

A Essência do Ser Humano

Ao explorar temas como a natureza humana, a política, a religião e o sexo, Scruton não apenas levantou questões conceituais, mas também as examinou sob uma perspectiva prática. Seu compromisso em investigar a essência do ser humano e sua relação com o mundo refletiu um viés socrático em seu discurso, afinal buscava não apenas compreender, mas também guiar o homem contemporâneo na busca pelo que é verdadeiro, bom e belo.

Um dos pontos mais contundentes em que Roger Scruton confronta a arte contemporânea é sua crítica à perda de beleza e significado. Scruton argumenta que muitas manifestações artísticas contemporâneas, especialmente aquelas associadas ao movimento pós-moderno, abandonaram os valores tradicionais de estética em favor de uma abordagem que privilegia o choque, o escândalo e o conceitualismo vazio.

Kitsch e metakitsch

Para Scruton, a arte contemporânea frequentemente abraça o que ele chama de “kitsch” e “metakitsch“, termos que ele utiliza para descrever a produção massificada de obras sem valor estético ou substância significativa. Ele critica o relativismo cultural que permeia muitas interpretações da arte atual, onde qualquer objeto pode ser considerado arte, independentemente de sua habilidade, originalidade ou apelo estético.

Kitsch é um termo usado para se referir a obras de arte, objetos ou produções culturais que são consideradas de mau gosto, pretensiosas ou excessivamente sentimentais. O kitsch geralmente apela para emoções superficiais e clichês, muitas vezes explorando temas como romantismo exagerado, nostalgia barata ou idealizações simplistas da realidade.

Por outro lado, metakitsch é uma extensão, uma abordagem de como o kitsch é percebido, criticado ou incorporado à cultura contemporânea. O metakitsch pode envolver uma reflexão consciente sobre os elementos kitsch em uma obra de arte ou uma abordagem irônica em relação ao próprio conceito de kitsch.

A epidemia do kitsch não se limita apenas à arte, mas também se estende à arquitetura contemporânea e ao design. Scruton lamenta a massificação estética e a falta de beleza nas construções modernas, na comunicação e no design que privilegiam a funcionalidade em detrimento da estética. Para ele, a arquitetura e o design devem refletir a identidade e o pertencimento das pessoas, proporcionando um ambiente que inspire harmonia e beleza.

Em meio a esse panorama, Scruton não apenas critica, mas também propõe soluções. Sua participação em iniciativas governamentais, como a comissão “Building Better, Building Beautiful”, demonstrou seu compromisso em promover a beleza e a qualidade de vida através da arquitetura. Para Scruton, estimar o belo é essencial para preservar não apenas a estética, mas também os valores fundamentais da humanidade.

Em última análise, podemos compreender que o legado de Roger Scruton é um lembrete de que a beleza não é um luxo, mas uma necessidade humana. Suas reflexões nos convidam a reavaliar nosso relacionamento com o belo e a buscar uma vida que seja verdadeiramente significativa e esteticamente enriquecedora. A beleza está ao nosso redor, esperando para ser descoberta e apreciada. É tempo de redescobrir a beleza perdida e permitir que ela guie nossas vidas rumo a um futuro mais luminoso e inspirador.

Aristóteles e “A Poética”

Aristóteles, em “A Poética”, analisou a tragédia grega e definiu elementos fundamentais da arte dramática, como a imitação, a catarse e a estrutura narrativa. Ele discutiu a importância da trama, dos personagens e do estilo na composição de uma obra de arte, enfatizando a necessidade de uma representação verossímil da realidade.

Scruton também compartilhou com Aristóteles uma profunda apreciação pela beleza e uma compreensão da arte como uma expressão essencial da condição humana. Ambos os pensadores reconheceram a importância da arte na busca pela verdade e no enriquecimento da experiência humana.

Expandindo os princípios estéticos de Aristóteles para o contexto contemporâneo, Scruton abordou questões como a decadência da arte e a necessidade de preservar a tradição e a beleza nas produções artísticas. Enquanto Aristóteles se concentrou principalmente na tragédia e na poesia épica, Scruton ampliou o escopo de sua análise para incluir diversas formas de arte, da música à arquitetura.

Ambos compartilham uma abordagem filosófica que valorizava a contemplação e a busca pelo entendimento do mundo. Os pensadores reconheceram a importância da reflexão sobre a arte e a estética para uma compreensão mais profunda da condição humana.

Muitas das manifestações artísticas contemporâneas, especialmente aquelas associadas ao pós-modernismo, haviam abandonado os valores tradicionais da estética em favor de uma abordagem que privilegiava o choque, o escândalo e o conceitualismo vazio. Scruton defendia a importância da beleza na arte e na arquitetura como algo que não apenas enriquece a vida humana, mas também reflete os valores fundamentais da humanidade.

Para o filósofo, a arte deveria aspirar à transcendência e à conexão com o sagrado, em vez de se afundar na negatividade e na desesperança, ou seja, a beleza realmente importa!

Scruton produziu vários documentários sobre a beleza. Disponibilizamos um deles como material complementar a este artigo:


IoP

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